18 de mar. de 2008

sobre o dia 17 de julho de 2008, quando nevou em Pelotas.

Lembro que fazia muito, mas muito frio quando acordei. A última hora que eu tinha saído pela rua, às 21h da noite do dia anterior, do qual voltava de um café, fazia 2ºC no termômetro ali da frente do Aquário. E garoava, uma fina garoa que mais tarde se transformou em uma névoa que cobriu a cidade. Sempre foi muito normal a névoa durante o inverno em Pelotas. Eu gosto, a cidade fica bonita, com um ar todo misterioso fortalecido pelas lâmpadas de luz alaranjada da rua. Subindo pela XV em direção ao meu apartamento, e ventava muito, mas muito. A sensação térmica era indescritível, congelante. Consegui me aliviar um pouco quando entrei no prédio. Me aqueci subindo as escadas, porém tive que deixar o aquecedor ligado a noite inteira, para manter o quarto confortável. Mas de madrugada o quarto já estava quente demais e eu, que me irrito com o calor para dormir, devo ter desligado em um estado de semi-sonambulismo. E por isso agora, Às 7h38min, segunda vez que tocou o despertador, meu quarto está nesse frio. Liguei novamente o aquecedor, e voltei para a cama, onde me enrolei nas cobertas. Fiquei ali mais uns 30 minutos, porém não dava mais para protelar. Tinha que me levantar, tomar banho e ir para o trabalho. Então abri a janela e olhei para fora. O vento estava mais fraco, mas conseguiu penetrar a mais estreita fresta que tinha nos vidros. Não havia sol, apenas nuvens, algumas mais carregadas em uma variação de tons um pouco acentuada. Fiquei por uns segundos olhando para o horizonte envolto em meus 2 cobertores. Não havia quase ninguém na rua. Nenhuma janela aberta, nada. Já era hora da cidade estar levantando, mas ninguém parecia ter coragem.
Nem eu tive coragem de abrir a janela. Levantei-me, corri para o banheiro, liguei o chuveiro na água mais quente possível e deixei ali ligado por um tempo, para aquecer. Com muita força de vontade entrei naquela água, mas o banho foi muito rápido, daqueles que a gente sai do banho pulando e gritando para se aquecer, mas mesmo assim está tremendo muito. Sequei-me, coloquei a roupa. Por sorte o aquecedor mantinha o quarto em uma temperatura agradável. Fiz uma torrada, e comi com leite quente. Escovei os dentes com água aquecida (a água da torneira estava cortante), penteei-me e fui ao trabalho. Embora úmido, não parecia que ia chover. Coloquei uns 3 casacos por cima do pijama, mais um blusão de lã e o sobretudo. 3 meias, e um tênis. E saí, com toca, luva e cachecol. A área de exposição do meu corpo ao frio reduzia-se aos meus olhos. Fui caminhando pela XV em direção à agência. Ao chegar perto do Aquário, vejo o termômetro. 08h55min, fazia -2ºC. E estava nublado, ou seja, a temperatura não iria subir muito, caso subisse. O vento fraco devia diminuir a sensação térmica a uns -5ºC. Abri a agência e fui logo ligando o ar no mais quente possível. Mas aquele ar era fraco, e demorou e muito até a temperatura ficar de leve agradável lá dentro. Fiz o café, bem forte, pra aquecer. Liguei os computadores e as pessoas começaram a chegar. O café não durou meia hora, e todos ali com muito frio, sem conseguir trabalhar direito, já que a coordenação motora estava prejudicada. Às 9:58h, já terminada de passar a segunda jarra de café, eu fui para a janela tentar ver a temperatura no termômetro do Aquário (eu sou um dos poucos que consegue fazer isso lá da agência) e pasmem: havia diminuído. -3ºC. Creio que na cidade nunca fez tanto frio, ao menos não recentemente. Estava apavorante, e as nuvens no céu rumavam para a chuva.
E eram 10h04min, o vini olhando pela janela chamou a atenção das pessoas: neve! Neve! Neve em Pelotas! E a quantidade era relativamente grande! Claro que todos paramos de trabalhar na mesma hora e fomos para a rua. Era um momento raro. Fechamos a agência e descemos. Eu, Vini, Carol, Lauro, Nisia, Michael e Giu (que já tinha começado a trabalhar durante algumas manhãs). E ficamos ali na frente do prédio por um tempo, mas como não parecia que iria parar tão breve, seguimos em direção ao Aquário, naquela esquina de neves de papel. Agora era neve de verdade. A cidade inteira havia descido para a rua para observar. Alguns estavam incrédulos. Alguns sorriam como crianças (esses éramos nós). O Lauro pegou sua câmera e começou a bater fotos. Muitas. Mas mesmo caindo em grande quantidade, a neve não conseguia acumular muito. Apesar da temperatura negativa do ar, o chão ainda guardava algum calor, e a neve derretia algum tempo depois de tocá-lo. Andar nos paralelepípedos ficou perigoso: totalmente escorregadio. Fomos, então, em direção a praça Cel. Pedro Osório. Algumas pessoas já estavam lá. O chão já estava começando a ficar branco, os carros que passavam pela floriano deixavam marcas no asfalto, listras de neve/não-neve. A praça estava linda, muito linda. Algumas partes da calçada estavam brancas. Os bancos - de ferro - acumulavam a neve que caía ainda, 25 minutos depois. Alguns pedaçoes de chão já começavam a acumular neve também, e a praça ficava branquinha branquinha, tal qual eu imaginava alguns dias em fevereiro sentado na praça: imaginava o inverno ali, branquinho, para amenizar a sensação de calor. Tudo muito lindo, um sonho. E neve, neve e neve. Como estrelinhas brancas caindo do céu naquela manhã de julho. Eu não tinha trazido a máquina junto comigo, já que alguns dias mais úmidos e frios, ela apresentava probleminhas. Nem trabalhamos mais aquela manhã. Era por volta de 11h10min quando a neve parou de cair. Um vento de leve começou a bater. O chão estava branco, mas infelizmente não ficaria assim por muito tempo. Ficamos aquela manhã pela praça e caminhando no calçadão, nós 7, brincando como crianças de jogar bola de neve uns nos outros. Rimos muito. Completamos aquela manhã com um café no aquario, olhando para a rua tão bela através dos grandes vidros. 11h45min e Michael e Giu foram embora. A Nisia foi para casa minutos depois, para almoçar com a Dª. Laura. A temperatura tinha começado a subir um pouco, mas não muito. A neve que não estava no chão ainda estava acumulada, embora o vento tentasse derretê-la. Eu, Vini, Carol e Lauro fomos para o meu apartamento. Pedimos entrega do Aquário e fomos comer em um lugar que tivesse no mínimo um aquecedor. Almoçamos, e à tarde Carol e Vini teriam aula, Lauro tinha compromissos e eu voltei a trabalhar. A neve derreteu, mas ficou gravada em nosso sorriso e naquelas fotos.




(Detalhe da torre da catedral, tirada pelo Lauro de meio-dia, da janela do meu apartamento, ainda com um pouco de neve acumulada).

6 de mar. de 2008

e foi..

um pouco cansado pela vida, porém as dúvidas começam a ser solucionadas, e os passos que dá o levam para alguns lugares onde a dúvida (tal qual o vento) faz a curva, e volta para a sua origem: o nada. E, aos poucos, o destino próximo vai tomando forma. Algumas coisas o deixam empolgado, outras ainda o fazem sentir como há alguns meses atrás. Mas coisas novas o fazem sentir como naquele abril de 2004, onde sua vida definitivamente mudou para aquilo que ele tanto sonhara. Chove, e choveu. Naquele dia estava garoando, e tudo parecia tão imenso, tão diferente. Visões distorcidas, mas primeiras impressões tão boas. O destino pode ser fantástico. O taxi, o grande prédio amarelo, a laguna, o prédio cinza, as ruas de areia, a endorfina. O fizeram desistir daquilo que estava planejando durante três anos. E, neste quarto ano de sobrevivência por acá, sente que foi a coisa mais certa que fez. A empolgação inicial agora se faz presente. Novas perspectivas e planos futuros começando a tomar forma.


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Essa semana começaram as aulas, e foi estranho. Aos 5 anos ingressei, aos 21 egressei. Não é o fim, definitivamente. Mas ver todos indo àquele lugar que conheci bem antes, sem que eu esteja lá para dizer "este é fulano, aqui é isto, assim funciona lá" me faz sentir estranho. Afinal, é para isso que eu vim para cá. E agora continuo, porém sem isso. E aquilo começa a tomar outras formas, e eu não mais acompanho..

you came to take us
to recreate us
we had our mindset
you had to find it
all things go, all things go..