10 de dez. de 2007

hora do almoço.

Fora almoçar muito mais por obrigação do que por vontade. Não sentia fome alguma, mas talvez o pouco que tivera comido no café da manhã não o sustentasse até a noite. Entrou na taberna lotada, como sempre era naquela hora. Hora de almoço. O calor escaldante que sentia na rua, já povoada por enfeites natalinos e muitas pessoas - muito diferente daquele dia em agosto em que ficou parado à temperatura de 8ºC (sentindo-se na Europa) - não mais o afetava. O ar condicionado do local tornava o clima um pouco mais suportável. Nunca gostara do verão, e dias quentes como o que fazia o levavam à exaustão. Crível para ele apenas o fato de estar passando por uma fase difícil, pressão em vários campos de sua vida. Mas já tinha passado por momentos difíceis.
Esperou em pé, desviando-se dos garçons e do público consumidor da taberna, a liberação de uma mesa para sentar-se. Havia por um tempo abstraído o mundo, contido apenas nas dimensões que seus fones de ouvido lhe garantiam. Naquele momento, tocava Elliot Smith, e sua valsa número 2. Uma mesa liberou-se e ele sentou. A atendente deixou consigo o cardápio. Ele hesitou em dizer "eu já sei o que vou pedir", e preferiu olhar os lanches e ter certeza do que iria comer. Não demorou 10 segundos para escolher. Chamou a atendente, que anotou seu pedido e dirigiu-se á cozinha. Naquele momento sentiu-se sem fome alguma, ficou com vontade de se levantar e correr atrás da moça para cancelar. Mas não o fez. Iria comer, precisava.
O lanche demorou. Neste meio tempo, várias mesas desocuparam-se, e logo em seguida foram ocupadas por pessoas que, às pressas, garantiam os seus lugares no disputado local. Sujeitos actantes de seu momento, talvez meros coadjuvantes, ou simples figurantes - os quais sequer tinha ciência de serem reais, ou apenas figuras mentais que criara para não sentir-se tão sozinho. Absorveu-se tanto em seus pensamentos que sentiu a realidade parar, abstraiu-se do mundo, e naqueles 30 segundos de ausência que pareceram 15 minutos, entrou em outra dimensão, voltando para a realidade tal como acordar-se. Não sabe exatamente para onde foi, pois só conseguiu se dar conta do fato após ter se "acordado". E acordou-se com a mesma música que tocara antes de ter se desligado da realidade. A música durava apenas 6'16'', mas parecia estar tocando há meia hora, dada a infinidade de pensamentos que teve durante este tempo. Pensava sobre si. Sobre o modo que via o mundo, e que muitas vezes agia para com ele. No quanto ainda era imaturo, no quanto suas emoções ainda o dominavam - e ele não sabia lidar com elas, definitivamente. Seu jeito de gostar das pessoas era diferente. Muitas vezes agia como uma criança ao ganhar um brinquedo novo e que, de tão empolgada, acabava o exaurindo no mesmo dia.
O almoço chegou, e não pareceu nada apetitoso. Comeu, e a cada garfada, a vontade de largar o lanche pela metade e sair aumentava. Mas não o fez, provavelmente porque teria que pagar pelo lanche inteiro, e ele era apegado a certas materialidades. Conseguiu terminar. A lata de coca-cola (que continha um litro, até dois) estava mais da metade cheia e ele virou esta no copo, que continha uma fatia de limão e dois cubos de gelo. Ficou ali, enchendo o copo até a boca, até onde podia. Mas a lata não esvaziava nunca. Permaneceu ali, estanque, observando a reação do gás, e a luta que ele fazia para liberar-se do líquido negro por entre os cubos de gelo. Sentiu angústia, dor, raiva. Não fosse auto-controlado, a situação que imaginara (onde ele, irado, jogava o copo contra a parede) teria ocorrido. Tomou o resto da coca-cola e entrou na fila para pagar. Havia na carteira o dinheiro exato para pagar aquilo que consumira, e não precisou usar o cartão. Retirou os fones, por educação, para falar com a senhora que estava no caixa. Recolocou em seguida.
Ao sair da porta, o vento do ar condicionado balançou seus cabelos, e ele transpassou aquela barreira que o jogara de volta àquela rua quente, com muitas pessoas e enfeites natalinos. Mesmo que tivesse mais uma hora de intervalo, resolveu voltar para o serviço. Preferiu abstrair a realidade e não pensar em mais nada. Por mais clichê que pudesse parecer, desejou dormir e acordar apenas no novo ano que se aproximava.

2 comentários:

diego w. disse...

ão ão ão, o diego é dramalhão!

fabianaheinrich disse...

até rimou o finalzinho. e eu tbm sou a maior drama queen. é diver ser assim às vezes, uehue.

enfim, ótima narrativa, as usual. :) me deixou com vontade de ouvir elliot, que é o que farei agora. :D