Agora, parado, enquanto tento buscar fôlego para escrever mais e mais...
Penso acerca de necessidades humanas para se sentir humano.
Ou não, para se sentir firme dentro de um ideal. Dentro de um pensamento. Se sentir seguro enquanto pertencente a alguma coisa.
Uma destas necessidades é a de definir as coisas. Definir. Delimitar. Da série de coisas, que agora denomino Preguiças de Pensar. Basear-se na construção de um pensamento alheio para sentir-se firme dentro do terreno em que se está pisando.
É tratar-se produto, mercadoria:
Diego, 20 anos, homem, estudante, loiro, olhos verdes, brasileiro, gaúcho, formando, "designer", etc.
Estabelecer categorias. Talvez estas sejam intrínsecas, algumas físicas e imutáveis. Bom, um ser humano. Aí vão ver as músicas que ouço. Psicodelia, indie, alternativo, metal, erudita. Hmm... que ser estranho. Vamos denominá-lo então... hmm... talvez alternativo, ou eclético.
... not!
Os seres humanos parece que sentem uma necessidade de fazer tabelinhas acerca das pessoas que conhecem, colocando-as junto de outras pessoas que têm gostos semelhantes, e assim fica mais fácil de compreendê-las. Entendem agora o Preguiças de Pensar? Seria, pois, uma experiência muito melhor o compreender do que o rotular. Porque o que julgam estar entendendo quando rotulam não passa de mera ilusão. Uma frustração para mim.
Até porque categorias necessitam o estabelecimento de uma categoria contrária, com a qual a primeira estabelece uma relação de amor ou repulsa.
Homens gostam de mulheres.
Metaleiros odeiam reggaeiros.
Isso me deixa profundamente irritado.
Sobre isto, principalmente, acerca de uma discussão que se estabeleceu no primeiro capítulo de meu tcc. Sobre definir design gráfico. Não era minha intenção entrar nesta questão tão delicada. Definir design gráfico (que talvez seja necessário para alguma tarefa mais burocrática, tal qual a regulamentação da profissão), ao meu ver, seria delimitá-lo. Estabelecer limites de uma profissão, um método de produção que abarca a visão de alguém que se arriscou na questão. Porém, são pontos de vista, e como tais, são relativos. Pessoas têm diversos pontos de vista, que mutam a toda hora. Talvez seja muito mais fácil definir a matemática, dos números calculáveis e objetivos, do que uma profissão tantas vezes subjetiva quanto o design. Estabelecer um método e uma teoria, tornar uma coisa objetiva, criar uma fórmula para que ela seja realizada. Pois bem. O arroz verde uma vez foi receita secreta de um cozinheiro. Aí um dia ele resolveu escrever esta receita. Posteriormente, alguém leu esta receita, e assim dotou-se da capacidade de poder fazer o arroz verde. E, hoje em dia, banalizada a receita do arroz verde, qualquer um que saiba ler o pode fazer (não que seja absolutamente necessário saber ler). Tornar o design assim? Pois é. Entendem minha discordância com definições?
Outra questão contra a qual eu ando discorrendo (agora não tanto no tcc, mas em conversas com amigos) é sobre o ponto de muitas pessoas considerarem Design Gráfico (ó, Todo Poderoso sistema visual!) apenas aquilo que surgiu depois do surgimento das escolas. Pois bem. O design, assim como tantas outras profissões, nasceu do empirismo e da necessidade. Aí um dia resolveram criar uma escola para estudar este fenômeno, e hoje em dia alguns querem desconsiderar tudo o que foi feito anteriormente, tirar o seu valor enquanto design. Aí vem de novo a necessidade de se ter uma definição, um chão onde pisar: design gráfico só se tornou Design Gráfico (ó, Todo Poderoso, Deus do Papel e da Gráfica!) a partir do estabelecimento de uma escola para tal. Uiuiui, definição.
Não entendam meu discurso como anti-acadêmico. Se fosse por isso eu teria saído dela há tempos. A Universidade é super importante, amplia teus horizontes. Mas basear-se apenas nos conhecimentos que ela fornece, sem questionar, apenas digerir, é Preguiça de Pensar. É tornar-se bitolado. É abarcar uma ideologia. E, retomando o post anterior, "Toda pessoa que abarca uma ideologia é uma pessoa que parou de pensar".
"O mundo é calculável, porém indescritível." (Vilém Flusser)
*o exemplo do arroz verde provém do livro do Bruno Munari, o qual, na minha humilde opinião, é repulsivo, afinal ele tenta tornar o design uma receita de arroz verde. Blerght.
13 de out. de 2007
necessidades desnecessárias.
Postado por diego w. às 16:26
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
mas e tu não acha que o teu discurso de não-rotular e afins não se torna uma definição? e que é a partir das definições que chegamos aos conceitos abstratos tão almejados? pensa na nossa própria pesquisa de semiótica...
lendo teu post, me enxerguei em meio aos bitolados. no meu tcc, falo de metodologia. na minha concepção, design gráfico, como hoje ocorre (atenção às últimas três palavras) é produto das escolas de vanguarda modernistas, porque por mais que tivesse comunicação impressa antes e a necessidade humana de se expressar graficamente, foi o contexto que proporcionou o desenvolvimento do design como hoje o concebemos. acho muito mais 'preguiça de pensar' sentar na frente do pc e sair usando o que de mais novo o software tem a oferecer do que usar uma metodologia que simplesmente te ajuda a organizar as idéias, e não cortar a criatividade, para projetar algo novo e, melhor ainda, chegar a resultados mais satisfatórios, inovadores (o que seempre se espera de um trabalho de design gráfico) e com maior rapidez. o que é prejudicial é justamente esse pensamento de que métodos são antiquados e limitadores. a humanidade precisa de conceitos e métodos e sistematizações para poder ultrapassá-los. senão todo mundo fica reiventando a roda.
não sei se entendesse o meu ponto de vista. minha intenção não é ditar verdades, mas somente expressar o que acho mais correto.
e é muito bom e saudável discutir contigo. :)
Postar um comentário