O bolo que comprou, engraçado, tinha o mesmo gosto que ele imaginara. Igual, igual. Nunca o tinha provado, mas sinestesicamente sentiu o seu gosto. Nem seu cheiro, nem seu tato. Seu gosto. Um doce meio cítrico com cobertura de glacê. Glacê era feio, e é. Mas ele comprou mesmo assim.
E tinha umas bolinhas coloridas encima - este doce seria repudiado por muitas pessoas. Mas é sempre bom arriscar.
Comeu, lavou as mãos e foi ouvir música (não que não a ouvisse anteriormente, mas aquele momento era específico para ouvir música, nada mais). Estava só ele em casa. O volume ficou alto e ele cantou junto. Com qualquer pessoa em casa ou na volta, ele não cantaria, e moderaria o volume. Mas não. Cantou músicas melancólicas, porém. O dia, apesar do sol, não conseguiu o animar. Mentiu para si mesmo e para os outros que era sono. Mas não era. Ele tinha dessas coisas. Não se acordava bem, o peso de todas as coisas que ele relevou fazia-se ainda mais pesado, e ele não tinha forças para fingir um sorriso. Queria estar em outro mundo, queria estar em um mundo. Fechou-se, então, no seu mundo. Com suas músicas e seus pensamentos. Fazia isso 80% do tempo, mas desta vez era extremamente necessário. Não gosta quando é obrigado a se fechar. E quer, todavia, que alguém abra a porta e entre para o fazer companhia. Talvez odiasse admitir, mas ele apenas queria um pouco de atenção, por mais sentimental e piegas que isso pudesse parecer. Só um pouquinho, um pouquinho de respeito, uma ajudinha, uma moedinha, tio. Recebeu, pois, sua ajuda. Mas não a aproveitou como deveria. Ele têm dificuldade para falar do que sente, quer então que os outros adivinhem - tarefa impossível para alguém tão fechado. E isso o deixara, talvez, mais pra baixo ainda. Não os outros, ele mesmo. Ele tem consciência de que todo o mal que o afeta é culpa do medo que tem de demonstrar seu lado fraco. Não quer tornar-se um carente. Mas quer atenção. Quer um abraço. Quer um sorriso. Seu mal talvez não tenha explicações lógicas, logo ele não pode comentar, pois nem consegue. Ele só quer um abraço. Quiçá um beijo na testa. Um olhar e um sorriso. Isso é um remédio. Um grande remédio.
Então desligou a caixa de som. Escovou os dentes. Retomou a sua rotina.
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28 de jun. de 2007
bolo de glacê
Postado por diego w. às 13:25
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2 comentários:
comprasse um bem casado? p=
http://www.literatura.org/Cortazar/culpe.html
deguste-o. :)
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