Ele sempre montou a árvore de natal no dia certo. A árvore mais frondosa. Sempre havia um pinheiro plantado no terreno, pensando no natal. E talvez uma das maiores alegrias de alguém que, mesmo com seus 70 e poucos anos, mantinha a magia da tradição da árvore e a montava (e falava dela) com um brilho nos olhos maior do que o das crianças (nós, os netos) quando a viam. Os enfeites vinham de tempos, talvez alguns com mais de 50 anos até. Bolas de natal grandes, pequenas, com desenhos e até com presépios dentro. Sempre quebrava uma ou duas, claro, por causa do vento - e isso fazia com que a cada ano os enfeites fossem em parte renovados. Para montá-la eram necessários cuidados com os espinhos que ele parecia nem sentir. A árvore era grande, ia até o teto e muitas vezes nem sobrava espaço para a estrela. Ele montava com orgulho, com felicidade e vivacidade imensa. Gostava de agradar os netos nessas ocasiões especiais. Lembro sempre da Páscoa. Acordar cedo e ir procurar a cesta na casa dos avós Windmöller. Eles, os avós, acordavam-se ainda mais cedo para prepará-las e escondê-las em locais propositais - difíceis, mas nem tanto, de se achar. Era a alegria dos netos que mantinha nele essa magia ainda maior, bem como o desejo de manter a tradição. O último passo da árvore era colocar as luzinhas. E ele tinha um jogo muito, muito antigo, daqueles que duram a eternidade. E era tudo tão lindo. E a árvore ficava lá, ocupando um belo espaço da sala e ninguém se importava. No natal ele também se acordava cedo para colocar os presentes embaixo da árvore, todos com nome para não haver confusão. E eu gostava muito de ir lá e sentar com ele na sala, ficar falando sobre a árvore e vendo seus olhos se enchendo de lágrimas. E aí ele me contava histórias, as antigas, que eu adorava. Histórias da família, da Alemanha, das guerras. Mostrava as fotos, as moedas, os livros antigos e uns objetos de uma engenhosidade incrível - e quase sempre me presenteava com algum deles, sabendo do meu interesse e que eu cuidaria tão bem quanto ele. E ficávamos horas e horas os dois conversando. E sempre que eu penso em natal, eu penso nele. No seu último natal, intercalava os momentos no hospital com horas em casa, sentado na sala, em frente à árvore - que desta vez não havia sido montada por ele. Creio que ele é o principal responsável por eu gostar de manter essas tradições. E manter para sempre aquele espírito que se encantava pelo sempre por estas coisas. Mágicas.
10 de dez. de 2008
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