28 de fev. de 2008

umanodemais.

Lembro que ele se acordou bem cedo naquele dia. A ansiedade não o deixaria dormir por mais um tempo confiando no "soneca" de seu despertador, pois.. "vai que não me acordo depois", né? Era uma quarta-feira, verão, 28 de fevereiro de 2007. Por mais cedo que pudesse parecer (07:15h, sendo que seu compromisso seria apenas às 09:00h, e a distância que o separava de seu compromisso era de no máximo 15 minutos, no seu habitual ritmo de caminhada), não hesitou em não ficar dormindo. Não conhecia o seu ritmo, precisava entender o seu horário, já que não estava acostumado a acordar tão cedo, além de não querer chegar com uma super cara de sono em seu primeiro dia de trabalho. Levantou, então.. pensou mais uma vez na roupa que vestiria. Foi para um banho de duração normal. O friozinho na barriga só aumentava, mas o nervosismo pior: a entrevista, há 2 dias atrás, já tinha acontecido - já houvera o primeiro contato, mesmo que distorcido por tudo aquilo que ele se concentrou pra conseguir falar (e não saiu nem metade). Saiu do banho, vestiu-se. De certa forma se sentia orgulhoso por estar virando "adulto", era o seu primeiro trabalho, nunca tivera produzido nada que não fosse estritamente para a faculdade.
O café foi bem leve, frutas e iogurte (ele sempre faz isso quando se depara com uma situação diferente - tenta não comer nada que possa o fazer mal posteriormente). E, de acordo com o seu relógio de cabeceira, eram 08:27h e ele já estava pronto. Pegou a mochila, conferiu se tudo o que ele precisava levar estava ali dentro. Conferiu novamente. Sentou-se no sofá da sala sob a luz do sol que já estava começando a queimar. Conferiu novamente a mochila. Levantou-se, tomou água. Sentou-se, conferiu a mochila, levantou, tomou água. Sentou-se. Levantou, tomou água. Tomou mais água. E haviam se passado 10 minutos. Na época ainda não conhecia o seu ritmo de caminhada, e deuhmilivris chegar atrasado no primeiro dia de trabalho. Sequer ousaria tentar entrar na agência caso isso ocorresse. E foi, e chegou bem cedo, alguns minutos antes de o trabalho começar "efetivamente". Entrou no prédio, confiante (e ao mesmo tempo com um frio na barriga gigantesco, e uma vontade de sair correndo e se esconder embaixo de suas cobertas - mas tentava aparentar confiança). Cumprimentou o porteiro, pegou o elevador. O "panorâmico" (o mesmo que o assustara no dia da entrevista, pois ele não tinha se ligado que ele tinha vidros nas laterais), seu preferido. 4º andar. E pensou "ai.. chegou".
De lá, a única pessoa que ele teve contato anterior era a Nisia, que trabalhava como uma espécie de secretária multi-uso. Adicionou ela no msn no dia da entrevista, e na noite anterior encheu o saco dela para que ela estivesse lá bem cedo, pois teria ao menos alguém de conhecido para ele não se sentir tão apavorado (é, ele tem problemas nos primeiros contatos com pessoas). Parou em frente à porta, respirou, e então tocou a campaínha. Se segurou novamente para não sair correndo e se jogar embaixo das cobertas. Ok, já houvera tocado a campaínha, o que mais poderia acontecer? Ai sim, alguém poderia atender. E agora?! E se a Nisia não estivesse chegado ainda? O pânico chegou a níveis de pico no momento em que a maçaneta da porta girou. Era a Nisia, ufa. Um ser conhecido, ao menos. E aí entrou, e em menos de 5 segundos, o pânico diminuiu.
O que ele lembrava muito bem do dia da entrevista era de como era a sala. Adora janelas, desde sempre. E desde pequeno sonhava em trabalhar em um lugar "todo feito de janelas". Com janelas até o chão, como era aquele escritório. E aquilo o fez se sentir muito importante, já que era um ambiente que se imaginava trabalhando desde seus 7 anos, mais ou menos. Entrou, e devia estar com uma cara de muito apavorado. A Giu (que já tinha descoberto que era a tal "Juliana" que o entrevistara, que era a sua chefe, e que na verdade se chama Giulianna - cuja ele imaginava bem diferente, e sequer notou que estava grávida no dia da entrevista), um pouco escondida atrás de seu mac, o pediu que sentasse na mesa redonda de cadeiras verdes e laranjas (óbvio que ela não falou assim da mesa, né?), e esperasse a Carol chegar, já que ela o explicaria como funcionavam os sistemas de arquivos/computadores/rede/clientes/etc. Aí ele se sentou. Na sala também estava o outro menino, que estava lá também no dia da entrevista. Ele parecia legal, ao menos a Nisia tinha falado muito bem dele, que ele estava ansioso pra o conhecer. Com dreads e roupas "estilosas" (ok, faltou o adjetivo), o menino - que agora sabia, se chamava Vini - conversou com ele. Perguntou se queria café. Ele (o Diego) deve ter sido absolutamente monossilábico, já que sua timidez não permitiria nada além. Aceitou o café. Vini, então, se levantou e serviu na xícara azul escuro (que se tornou a sua preferida até o dia que ela se quebrou) e levou até onde ele estava sentado, junto com uma colherinha, um suporte verde e um sachet laranjinha que continha açúcar. O café parecia bom - naquela ansiedade toda não sabia distinguir gostos. Esperou mais algum tempinho, e a Carol chegou - ela não chegou atrasada. Na verdade, eles que tinham chegado mais cedo.
Foram para o computador. Ela também parecia tímida. Mas explicou o que ele precisava saber naquele primeiro momento: o nome dos computadores (que ele ficou por alguns minutos depois tentando mentalizar "rio de janeiro - milão - amsterdan - paris - londres"), a organização dos arquivos (pastas clientes/lixo e pessoais), a rede como funcionava.. algumas coisinhas básicas. Mostrou quais eram os clientes, e então o deixou ali, para que se familiarizasse. A Giu então lhe passou a primeira "missão": um dos clientes precisava de um selo comemorativo, e ele estava incumbido de tentar elaborar alguma proposta. Sentou-se, ainda com o café (que foi o único que tomou naquela manhã), abriu o corel. Entrou no site da empresa. Leu todo ele, para ver de que se tratava. Abriu o Corel. E o que aparece? A tela em branco.
E então? E então que todos os seus conhecimentos em todos os softwares sumiram pelo ralo. A tarefa mais simples, e ele não conseguia fazer. Até conseguia, mas ficou tão tenso... Voltou a ler o site. A determinada altura da manhã, já conhecia todos os ingredientes das rações animais, sabia distinguir óleo X de óleo Y, lera a história da empresa e tudo mais. Aí ia pro corel. E nada. Foi para o banco de imagens. Procurou por imagens de galhos de arroz. Sei lá, talvez o anjo da inspiração o visitasse em algum momento. Ok, um galho de arroz. É isso. Salva, vai pro corel trace, vetoriza. Ficou uma merda. Tudo bem, vai que sei lá.. se desconstruir aqui e ali. Não. É, não, definitivamente. Pegou a imagem novamente. Vai usar as ferramentas de desenho.
"AI MEU DEUS EU NÃO SEI DESENHAR AQUI!!!", pensou. Aí pela terceira vez a vontade de sair correndo até em casa e se esconder embaixo do cobertor.
Ok, precisava se acalmar.

Mas morria de medo de entrar no msn. No orkut então? NUNCA!
Ele enxergava o monitor que a carol estava trabalhando. Ela fazia alguma coisa para o laboratório X, com alguns azuis. E algumas vezes falava no msn. Aí ele entrou. Mas tri tenso, e tal. E o menino de dreads perguntou qual era o endereço do msn dele. Ok, era complexo. Não lembro se ele soletrou ou escreveu em um papel. E aí "vini acaba de entrar". Mas ele não falou com ninguém. Já imaginou se alguém pensa que ele tá perdendo algum minuto de trabalho pra ficar no msn? Se alguém falasse alguma coisa, ele finalmente sairia correndo e se esconderia embaixo das cobertas. Ok, deixou lá. Percebeu que a tecla "o" do teclado tinha problemas, tal qual a barra de espaço. Mas ok, não estava ali pelo msn, mesmo. E aí tomou coragem: www.orkut.com. Ai, mas e agora? E se alguém vê? Acho que ficou 5 segundos com ele aberto. Voltou pro corel. Desenhou toscamente um galhinho de arroz. Estava começando a ter alguma idéia (que não deu certo, enfim). Mas quando alguém passava por trás do monitor dele, ele disfarçava o que estava fazendo, e ia pra algum canto aleatório da tela. Estava achando muito tosco o que estava fazendo. Mas continuou. "Preciso ter uma idéia logo, preciso mostrar trabalho, preciso fazer uma coisa legal, preciso aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!".
E abriu-se uma janela de msn. "vini - Conversa". Tensão. Já eram 11:45h.

"vini diz:
oi! Se tu tiver meio perdido por aí, pode falar comigo
vini diz:
porque eu lemrbo que eu tava bem perdido no meu primeiro dia de trabalho
D o k t o r Z a v u l o n ]] [[ agência mais diz: (ai, ok, confesso, usei esse nick por um bom tempo)
obrigado, mas tá tudo tranqüilo por enquanto."

E nada mais falou. Deve ter parecido o ser mais anti-social do mundo. E aí por volta de 11:55h, a Giu foi embora. O Michael não viria naquela manhã por suas funções com o mestrado. Aí Carol, Vini e Nisia começaram a conversar. E aí chegou o Lauro (o "setor de emergência", como me explicaram), com um notebook, que conectou à internet. Ficaram um tempo ali eles conversando, e ele em sua timidez, apenas rindo, e continuava ali, sem interagir muito. Hora de ir embora. Vai até o banheiro, larga a xícara azul. A Nisia comenta com o Vini de como o all star que ele estava calçando era legal, Vini concorda. Pegaram o elevador e saíram do prédio.
E aí ele veio pra casa. Feliz. Uma nova etapa de sua vida. Se sentia adulto, se sentia bem. Estava nas alturas, agora era um trabalhador.
Fim.
=)

Hoje em dia, João já nasceu, Michael já é mestre, carol e vini estão entrando no 3º semestre da faculdade, Lauro entrou para uma nova faculdade, Nisia já é "doutora". Mas continuam ali.

Há um ano.
=)

27 de fev. de 2008

e quem..

lhes contou a mentira sobre o mundo ser justo?

25 de fev. de 2008

aos quase doze..

sob os pedaços que se mantém flutuantes, de coisas que um dia lhe fizeram mal, ele se esconde do sol. E pensou, assim, que o que lhe fez mal um dia hoje lhe é benéfico.


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Um ritmo novo. Ou o mesmo de sempre, apenas embalado por novas canções. Ou mesmo as velhas, para ser nostálgico. E, mesmo sem guarda chuvas, conseguiu hoje sair na rua sem se molhar. O palhaço olha pra ele e sorri. Cíclico, e agora mais forte. E, mesmo sem características originais, sempre vai lembrar aquilo que foi um dia. As marcas do tempo servem para a gente saber que ainda está vivo.